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Papo Reto -

Papo Reto

Experimente momentos de desconexão

Experimente momentos de desconexão
24/03/2014
David Baker: “Ninguém precisa abandonar a tecnologia, mas é necessário experimentar momentos de desconexão”

Há dois problemas com a tecnologia: ela está crescendo muito rápido e é muito sedutora. E ela vai se desenvolver cada vez mais rápido. Nós estamos tentando disputar uma corrida com a tecnologia para utilizá-la, mas nunca vamos vencer. Então nós precisamos nos reposicionar em relação à tecnologia e perguntar como nós podemos fazer para que ela não seja nosso mestre, mas uma ferramenta. Precisamos fazer com que os avanços tecnológicos sejam a nossa caixa de ferramentas. Se nós temos uma caixa de ferramentas em casa, nós não acordamos e vamos correndo serrar alguma coisa, vamos?

Mas nós acordamos e vamos checar nossas notificações, por exemplo. Então nossa relação com a tecnologia nesse momento é adolescente, é sedutora, nós estamos apaixonados. E agora temos a oportunidade de entrar numa nova fase do nosso relacionamento: entender a tecnologia, compreender o que é viver com ela. Temos que nos perguntar que tipo de seres humanos nós queremos ser e quais são as tecnologias que podem ajudar nesse propósito. Por exemplo: eu não gosto quando as pessoas ficam checando seus telefones quando eu estou falando com elas. Primeiro, porque é desrespeitoso. Porque existe algo de belo na atenção que as pessoas dão umas às outras. Eu quero uma revolução na qual as pessoas amem a tecnologia, mas a usem mais como uma caixa de ferramentas e menos como um mestre.” disse David Baker.

Por que você não tenta em experimento? Por que você não tenta ficar sem entrar no Facebook por doze horas? Pode ser algo interessante, embora seja meio assustador, mas você vai perceber que ficou menos assustado que imaginou que ficaria. E você pode descobrir como aproveitar essas doze horas, na próxima vez você pode tentar ficar doze horas sem telefone. Ninguém precisa abandonar a tecnologia, mas é necessário experimentar momentos de desconexão.

A Culpa é da Banda Larga
“A ideia de sempre estar conectado é uma invenção da banda larga. Eu tenho quase cinquenta anos e eu me lembro de quando a internet era discada. Você se conectava e se desconectava porque era como um telefonema, você telefonava para a internet. Agora nós podemos estar sempre online e assumimos que essa é a maneira correta de usar a internet. Mas às vezes nós deveríamos experimentar ficar offline e ver como nos sentimos. Eu acho que muitas pessoas podem descobrir que de repente elas estão pensando diferente, conversando mais, indo a parques. E eventualmente elas podem pensar ‘E se eu ficar dois dias sem internet?’. Então meu conselho é experimentar. Porque nós somos viciados em internet. As pessoas saem de casa, percebem que esqueceram seus telefones e atravessam a cidade outra vez para buscá-los. Nós também fazemos isso com drogas e isso é péssimo. Então temos que ajudar as pessoas a pensar “Eu esqueci meu telefone em casa e isso não é um desastre”. Porque é só um pedaço de plástico com um computador dentro!

O celular como desculpa para a falta de conforto
Se você sair do papo da mesa para olhar o celular, quando você voltar, não vai ser tão simples de retornar o foco. Se você mantiver a atenção a noite toda no papo presente, a qualidade da sua interação vai ser muito melhor. É igual fazer um trabalho que exija concentração: se você ficar toda hora sendo interrompido, não vai conseguir fazer ou vai sair muito ruim.

O silêncio também não precisa ser constrangedor. Se você, em todo silêncio, não aguenta e pega o celular para mexer, na verdade está apenas fugindo de sentir esse leve constrangimento. No papo cara-a-cara, não vai existir ensaio como em mensagens de texto, nós vamos ter que lidar com o que a vida que nos apresenta ali, na hora. Se ficarmos toda hora recorrendo ao celular, vamos acabar criando o vício de fugir de certas situações que podem ser contornadas com pouco mais de destreza, e não vamos nos aprofundar tanto nas nossas relações.

Verdades nem tão verdadeiras
“Redes sociais deixam quem está perto mais longe e quem está longe mais perto.”
Mentira. Você mantém perto quem você quer. Dadas as proporções e feitas as devidas ressalvas, se você não se esforça, é porque talvez não queira tanto assim.

“Ah, mas é difícil arranjar tempo!”
Não necessariamente. Se você consegue postar fotos de gatos no Facebook, consegue ver os amigos também. É importante saber alocar o tempo e definir as prioridades. O problema é que as redes sociais podem ser usadas como desculpa para nossa preguiça.

Melhorando o modo de viver
Eu não tenho respostas. E eu também não tenho conselhos. Porque a verdade, seja lá o que isso signifique, é que a resposta correta está dentro de nós. A resposta certa para mim não é a resposta certa para você. Então é importante que as pessoas se lembrem: se as respostas existissem, nós poderíamos fazer um google extremo com perguntas como ‘como eu devo viver a minha vida?’ e descobriríamos.  Pessoas que dizem que existe uma resposta são charlatões. Porque elas dizem que sabem como a vida deve ser vivida, dizem que sabem quais são as regras. Mas você deve ir além das regras. Mas para algumas pessoas isso é muito atraente, porque elas não vão precisar pensar. Mas para outras pessoas isso é um problema, porque elas parecem ótimas, mas elas não conseguem viver suas vidas de acordo com as regras. E elas não precisam viver assim e nem devem se sentir culpadas e inadequadas por não seguirem as regras. Então eu acho que devemos rejeitar as respostas e substituí-las por provocações. Uma conversa ao vivo é muito diferente de uma conversa por Skype. Temos que entender que há coisas que as pessoas fazem melhor do que a tecnologia.

Trabalho e distrações
Um dos maiores desafios para se trabalhar de forma inteligente são as interrupções que a tecnologia traz. Há e-mails chegando o tempo inteiro. Você está trabalhando, pensando e de repente chega um e-mail e então o trabalho fica mais lento. Há estudos que dizem que o trabalho fica oito vezes mais lento. Então nós precisamos trabalhar oito vezes mais tempo, mas temos que produzir as mesmas coisas que fazíamos antes e as pessoas acabam levando trabalho para casa. Se você parasse de olhar seus e-mails, acabaria tudo que tem fazer muito mais cedo. Nós poderíamos oferecer às pessoas a oportunidade de trabalhar rápido e de forma inteligente e depois irem para casa ou explorar novos projetos. Se você acabasse seu serviço mais cedo, poderia usar o resto do dia para fazer o que quisesse porque boas ideias vêm desse tipo de exploração.

E a segunda coisa sobre o mercado de trabalho é que a maior parte do trabalho é completamente inútil. Eu escrevo um relatório para alguém e ele envia o documento ara uma terceira pessoa e depois nós três vamos fazer uma reunião para discutir o relatório, enquanto uma quarta pessoa escreve uma versão do relatório que será enviada para dez outras pessoas. Essa é a descrição do trabalho de muitas pessoas. Nós precisamos olhar para o mercado de trabalho e perceber que rituais que parecem ser obrigatórios são na verdade invenções que nós poderíamos “desinventar”. Assim como poderíamos desinventar o conceito de estar sempre online. Precisamos ser mais questionadores, sobre nós mesmo e sobre o nosso trabalho. Por que estamos tendo essa reunião? Por que eu escrevo esses relatórios? Por que eu faço isso desse jeito? Temos que responder essas perguntas. Eu suspeito que no mercado de trabalho nos fazemos suposições demais. Fazemos suposições importantes que estão erradas. Por exemplo, nós supomos que quanto mais horas trabalharmos, melhor estaremos trabalhando. Na verdade, quanto mais horas eu trabalho, pior fica a minha vida pessoal, todos nós sabemos que isso é verdade.”



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